Páginas

sábado, 20 de outubro de 2012

martes


Essa experimental não aconteceu no espaço de fora da cidade, mas eu diria que aconteceu dentro dela. Pensei a partir desse vídeo experimental, que a cidade poderia ser aquilo que não compreende meu espaço próprio, por exemplo, minha casa.
Eu estava visitando uma amiga, e no desenrolar do dia resolvi dançar no tapete de sua casa. Foi uma dança gratuita, sem planejamentos, um instante que pedia uma dança. Quando eu vi, ela estava me filmando e também se afetando pela dança e pela música.
A edição desse vídeo não é um fim, mas um meio de abertura para outras tecimentos. Quando costurei os pedaços dessas memórias, não queria construir um caminho de edição fixo, mas de alguma forma queria criar uma sensação a partir das imagens. Então, o que surgiu, foi um vídeo de vinte minutos revelando a sensação do meu corpo se apropriando do espaço.

câmera: Camila Lua Oliveira

um curso d'água


"Onde nasce um curso d'água" é um projeto vinculado ao meu grupo de dança. Esse trabalho está intimamente ligado a minha pesquisa, no que se refere à relação entre corpo e cidade como possibilidade de dramaturgia para vídeodança. Sendo assim, resolvi unir os dois projetos.

O lugar dessa experimentação aconteceu na água mineral, em Brasília. Por se tratar de um lugar de passagem constante de corpos, nossa experimentação foi vista por olhos curiosos, que de início, acredito eu, acharam um tanto estranho a dança que se realizava naquele espaço público.

Enquanto dançávamos ao som de pássaros e gritos de crianças, dava também para escutar o burburinho sobre nossa dança. A nosso trabalho de improvisação foi contaminado pelo lugar e suas tessituras.
De alguma forma, invadimos o espaço público de sociabilidade e lazer, provocando curiosidade, oras incomoda de quem passava pela piscina e observava uma dança não codificada, ora provocando um acontecimento inusitado. Para Sant’Anna (2001)

                                     dentro das cidades que parecem sem começo nem fim há uma massa de pessoas dispersas, buscando lugares que facilitem a experiência de arrebatamentos inatuais. Lugares afetuosos, intimistas, ou expansivos, que de algum modo levem o ser humano a amar o fardo da vida, a esquecê-lo ou percebê-lo mais leve (SANT’ANNA, 2001).

Quanto à inserção da experimental em dança no espaço público, pode-se pensar em um corpo em reconstrução. Experimentamos o nosso corpo num território não-habitual (sala de ensaio, ou em cima de um palco), reconstruindo-o, transformando-o de diversas maneiras diante das câmeras e dos próprios olhos de quem ali passava.

Apropriamo-nos do espaço público para experimentar a nossa dança, aquilo que nos move enquanto dança. A captura das imagens, e posteriormente a edição do vídeo teve caráter de registro do processo, mas também não deixa de ser uma possibilidade de criar algo também a partir de uma experimentação também da edição das imagens.

Não houve roteiro de edição, apenas me deixei levar pela sensação das imagens, e claro da dança. Elas me mostram um caminho, e eu como rio sigo o fluxo, que é imprevisto muitas vezes exultando o instante captado pela câmera.

Bibliografia
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Corpos de passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. – São Paulo: Estação Liberdade, 2001.